Um dos momentos mais marcantes aconteceu no Café Literário, onde Conceição Evaristo encontrou Clarice Lispector — representada com sensibilidade pela atriz Beth Goulart.
O diálogo entre as duas autoras ganhou forma a partir de um elo em comum: Macabéa, a protagonista de A Hora da Estrela, obra escrita por Clarice Lispector há quase 50 anos. Em 2023, Conceição reescreveu o destino dessa figura, criando “Macabéa: Flor de Mulungu”, uma nova Macabéa que ressurge pela ótica da escrevivência.
“Minha vaidade é ver que a vida vale a pena. Uma história, uma herança que estou ajudando a construir”, afirmou Conceição, emocionando a plateia com sua presença serena e potente.
O palco Apoteose trouxe outra atração de peso: o encontro promovido pela comunidade BookTok, que reuniu Selton Mello, as criadoras de conteúdo Anaju, Dayhara Martins e Thiago Neiva. Selton compartilhou histórias de bastidores, reflexões sobre memória e a relação afetiva com os livros, nos quais ele deu vida há muitos de seus personagens, e sua autobiografia.
“Esse livro é sobre sensibilidade, não é sobre atuar. Ele vai inspirar alguma alma sensível”, disse o ator ao comentar sua primeira obra literária, escrita como forma de comemorar os 40 anos de carreira e homenagear a mãe, que enfrentava o Alzheimer, enquanto ele escrevia o livro.
A presença do TikTok como patrocinador da noite refletiu o papel crescente da plataforma na transformação do hábito de leitura entre os jovens.
Somente no Brasil, nos últimos seis meses, as buscas relacionadas a livros dobraram em comparação com o período anterior. Já a hashtag #BookTokBrasil ultraou os 2,6 milhões de vídeos, com uma média de mais de 40 mil novos conteúdos semanais. O fenômeno tem impulsionado não apenas a descoberta de novos autores, mas também a redescoberta de clássicos, como Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, que viralizou nos Estados Unidos após a resenha de uma criadora americana.
Karine Leôncio é veterana na produção de conteúdo literário e compartilhou como encontrou um novo público com vídeos curtos e linguagem mais ível na plataforma, no pós-pandemia.
“A sensação é de estar ali na casa da pessoa lendo o livro com ela. O BookTok tornou a leitura mais democrática, mais divertida. Criou uma comunidade engajada e apaixonada por livros”, contou.
O entusiasmo do público também ganhou destaque. A estudante paulista Viviane Castro, que vive no Rio há um ano e meio, disse estar vivendo um sonho.
“Como leitora assídua desde pequena, estou no mundo das maravilhas. Me senti uma criança aqui. Vim por causa do TikTok, mas já garanti o ingresso para vários dias. O livro que estou lendo agora, A Quarta Asa, conheci por criadoras de conteúdo e vim lendo no caminho.”
A pedagoga Carolina Rocha circulava entre os estandes com os amigos Isabela Flor e Erick Robert, empolgados com a programação e carregando uma mala para levar os livros comprados.
“Estou com a expectativa grande para encontrar livros e aproveitar a promoção”, disse Carolina. “Adorando a pré-estreia, é muito legal essa proposta”, completou Isabela.
Eric, em sua primeira Bienal, estava encantado: “Queria ir no Escape Room da Agatha Christie, mas não vai dar tempo hoje. Vou ter que voltar outro dia.”
A noite foi apenas uma prévia da proposta grandiosa da Bienal do Livro Rio 2025, que acontece entre os dias 13 e 22 de junho. Serão mais de 300 participantes e 200 horas de conteúdo, com autores consagrados, novos talentos, curadores amados pelo público e uma programação transversal que coloca o livro no centro de tudo.
Neste ano simbólico, em que o Rio de Janeiro ostenta o título de Capital Mundial do Livro, concedido pela UNESCO, o festival aposta em uma experiência transformadora. O evento traz pela primeira vez o conceito de Book Park — um parque literário que une leitura, ludicidade e imersão. Entre as atrações, espaços interativos, experiências sensoriais e atividades pensadas para conectar diferentes gerações no universo literário.
O homenageado desta edição é o escritor e jornalista Ruy Castro, que lançará dois novos títulos durante o evento. A expectativa é de mais de 600 mil visitantes ao longo dos dez dias de Bienal.