A interdição ocorre meses depois da divulgação de uma lista de creatinas adulteradas. Em outubro, a Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri) publicou um relatório reprovando 18 marcas comercializadas no Brasil, devido à discrepância entre o teor de creatina informado no rótulo e a quantidade real presente no produto. As análises apontaram que os produtos não estavam em conformidade com o que é declarado.
A legislação brasileira permite variação máxima de até 20% da quantidade de creatina especificada no rótulo. Dessa forma, o produto precisa ter, pelo menos, 80% de pureza.
A pesquisa, lançada em outubro, analisou um total de 88 produtos. Das 18 marcas reprovadas, 10 apresentaram uma variação de 100%, ou seja, continham outras substâncias em vez de creatina. Entre as 10 marcas, cinco pertencem ao mesmo fabricante.
Segundo Lorena Lima Amato, endocrinologista e doutora pela Universidade de São Paulo (USP), alguns estudos indicam que substâncias diversas têm sido utilizados para adulterar creatina para baratear o custo do suplemento. É o caso de carboidrato simples, como maltodextrina, dextrose e aminoácidos mais baratos, como glicina, taurina e arginina, além de sais e açúcares artificiais.
"Isso é feito apenas para preencher o volume do suplemento e baratear o custo, entregando um produto mais barato do que se você entregasse uma creatina 100% pura", explica Amato. "Também existe a possibilidade de adulterar o produto com substâncias estimulantes, que trariam a sensação de energia para o consumidor, como a cafeína", completa.
No entanto, a adição dessas substâncias para baratear o custo da creatina podem trazer riscos à saúde, de acordo com a endocrinologista. "Os riscos vão depender de cada substância adicionada na creatina. Por exemplo, se foi adicionada dextrose ou algum outro tipo de carboidrato, pode aumentar a glicemia em pessoas com diabetes e em idosos. Se for cafeína, pode aumentar a frequência cardíaca...", elenca Amato.
Também existe o risco de efeitos colaterais, como alergia, e a consumidor não saber qual é a causa, já que não sabe quais produtos estão presentes na creatina adulterada.
Por isso, é importante ficar atento aos sinais de alerta que podem surgir após o consumo da creatina. "A creatina é um produto que não é para trazer efeitos colaterais no seu consumo, como náusea, diarreia, palpitação, irritabilidade, insônia, gases ou qualquer outra alteração gastrointestinal. O consumo da creatina pura não é para trazer nenhum desses sintomas", ressalta a endocrinologista.
"Se você ou a consumir a creatina e começou a ter, inclusive, também acne, queda de cabelo, algum desses sintomas diferentes, vale suspeitar que, talvez, aquele produto não esteja sendo o que você acha que é", completa.
A avaliação precisa para identificar se uma creatina é pura ou adulterada é feita apenas em laboratório. No entanto, algumas dicas caseiras podem ajudar a suspeitar da adulteração do suplemento. Uma delas é a aparência.
"A creatina é branca como açúcar, parece um açúcar refinado. Então, se a creatina que você está usando tem um aspecto grumoso, uma coloração mais amarelada ou mais escura, isso deve chamar atenção para a suspeita de não ser creatina", orienta Amato.
Outro ponto a ser observado é a diluição. A creatina pura é parcialmente solúvel em água, isso significa que ela não dissolve rapidamente, mas também não forma gotículas ou fica boiando na água. "Se você colocar na água e ficar com esse aspecto, pode ter algum outro componente", afirma a endocrinologista.
Uma alternativa é adicionar vinagre na água e depois acrescentar a creatina. Se borbulhar, pode ser que haja outros componentes no produto, como bicarbonato de sódio, por exemplo.
Vale lembrar, ainda, que a creatina não tem sabor. Então, ao notar que o suplemento está com sabor doce, por exemplo, pode ter sido adicionado algum tipo de açúcar para aumentar o volume do produto.
*Com informações de João Rosa, da CNN, e do Estadão Conteúdo